O jornal é norte-americano, mas o autor do artigo é brasileiro. Eis o texto:
Bolsonaro não está se Preparando para um Golpe de Estado. Ele está se Preparando para uma Revolução.
Setembro. 7, 2022
Por Miguel Lago
É época de eleição no Brasil, e a habitual azáfama enche o ar. A imprensa, ansiosamente, está seguindo campanhas, fazendo os perfis dos candidatos e especulando sobre o futuro das coligações. Apoiadores do candidato na liderança, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estão debatendo acaloradamente quem serão os próximos ministros do governo. E todos os envolvidos estão atravessando o país para comícios, em um enérgico esforço para obter o voto.
Contudo, Bolsonaro, o presidente da extrema-direita do país, se difere. Enquanto seus adversários passaram meses ansiando pela a eleição, ele procurou antecipadamente desacreditá-la. Ele tem questionado o papel da Suprema Corte e lançou dúvidas, de forma tagarela e frequente, sobre o processo eleitoral. Ele fala como se a eleição fosse um estorvo, uma irritação. Ele diz que não aceitará nenhum resultado que não seja a vitória.
Para alguns, isso parece uma preparação para um golpe. Nesta perspectiva, Mr. Bolsonaro tenciona recusar qualquer resultado eleitoral que não o agrade e, com a ajuda do exército, instalar-se como presidente permanentemente. A leitura está metade certa: Mr. Bolsonaro não tenciona deixar o cargo, independentemente dos resultados da eleição. Mas não é um golpe, pois isso precisa do consenso da elite e a prevenção da mobilização das massas, que ele está atrás. É uma revolução.
Desde o início do seu mandato, Mr. Bolsonaro tem se comportado mais como um líder revolucionário do que um presidente. No seu primeiro mês no cargo, ele disse que seu papel não era construir nada, mas “desfazer” tudo. Em vez de dirigir o governo, ele tentou perturbá-lo. Ele se recusou a preencher cargos em agências regulatórias cruciais, colocou apoiadores sem nenhuma expertise técnica em altas posições, tirou o financiamento de programas sociais, puniu funcionários públicos por fazerem seus trabalhos e deixou de fornecer uma resposta coordenada à pandemia, que matou mais de 680,000 brasileiros.
Não é a destruição por si só, no entanto. Desmantelar o estado é como o Sr Bolsonaro inflama seus partidários. Através da identificação clara inimigos e hostilizando-los, ele excita a seus seguidores e, fundamentalmente, pede o seu apoio. Tudo o que ele faz – decretos, projetos de lei, os pronunciamentos, as manifestações, as alianças — é enquadrado para a infra-estrutura digital do YouTube, Telegrama e o WhatsApp. Quanto mais radical suas ações e palavras, mais engajamento ele gera.
O apoio ao Sr Bolsonaro pode iniciar on-line, mas se conduz para as ruas. No ano passado, o Sr Bolsonaro realizou uma “motociata bimestral,” uma marcha com milhares de motos que se parecia muito com uma demonstração bruta de força. Sua presidência, na verdade, aspira a ser um comício permanente. No dia 7 de setembro do ano passado, o Dia a Independência do Brasil, ele reuniu quase meio milhão de pessoas para protestar contra o Supremo Tribunal federal. No mesmo dia, este ano, ele prometeu um grande desfile militar para mostrar o apoio do exército ao seu governo.
Não são apenas os militares. Muitos dos mais fervorosos apoiadores de Bolsonaro são notáveis por seu poder sobre o cidadão comum. Ele é popular entre os policiais militares — um estudo de 2021 estima que 51 por cento dos policiais de rua brasileiros eram membros ativos de grupos online pró-Bolsonaro – ele também é o candidato favorito entre os proprietários de armas. Entre os que aprovam seu governo, 18% dizem que já tem uma arma em casa e quase a metade gostaria de ter uma.
O desejo deles pode se tornar realidade. Uma das principais conquistas da administração Bolsonaro tem sido a de enfraquecer o controle de armas, inundando o país com armas de fogo. Em 2018, cerca de 115.000 pessoas tinham licenças especiais para transportar uma arma no país. Agora, há mais de 670,000 pessoas que possuem essas licenças, mais do que a polícia e as forças armadas. Um número considerável deles adora o Sr Bolsonaro e são organizados em uma vasta rede de cerca de 2.000 arma de clubes.
Militante e comprometido, estes são os soldados rasos do futuro de qualquer revolução. Há muito que não sabemos a respeito de como isso pode acontecer. Mas é claro que se um contingente de apoiadores, armados e determinados a manter o Sr Bolsonaro no poder, irromper em Brasília, a capital, criaria o caos. Em muitas grandes cidades, não é impossível imaginar uma insurreição liderada por forças policiais, enquanto motoristas de caminhão, esmagadoramente pró-Bolsonaro, poderiam bloquear as estradas, como eles fizeram em 2018, criando o caos. Pastores evangélicos, cujos fiéis por amplas margens apoiam o presidente, poderiam abençoar esses esforços como parte da luta pelo bem contra o mal. Dessa anarquia, o Sr Bolsonaro poderia forjar ordem ditatorial.
Quem irá detê-lo? Provavelmente não o exército. O sr Bolsonaro, afinal, tem muitos adeptos no serviço militar e mais de 6.000 militares trabalhando em seu governo, preenchendo funções civis. Por sua parte, o exército parece estar relativamente relaxado sobre uma possível invasão e não tem — para dizer o mínimo — nenhum apego especial pela democracia. Não há nenhum sinal, tanto quanto se possa ver, de que as forças armadas poderiam ser protagonistas de um golpe de estado. Mas também não há sinal de que elas iriam resistir a uma tentativa de revolução.
É improvável que as forças democráticas se saiam muito melhor. Apesar de toda a popularidade do Sr. da Silva, os esquerdistas parecem ter perdido sua capacidade de mobilizar as massas. O governo de esquerda de 13 anos, que terminou em 2016, fez muito para dispersar e enfraquecer os movimentos sociais, e eles têm lutado nos anos desde então, para recuperar o seu dinamismo. As manifestações contra o Bolsonaro, por exemplo, têm tido pouca participação. E a violência política está em ascensão: Um membro do partido do Sr. da Silva, por exemplo, recentemente foi morto por um apoiador de Bolsonaro. As pessoas certamente pensariam duas vezes antes de ir para as ruas para defender a vitória de Lula.
O melhor empecilho contra uma revolução, curiosamente, pode ser os Estados Unidos. A administração Biden poderia deixar claro os custos profundos, na forma de sanções e isolamento internacional, que seguiriam qualquer tomada de poder. Isso, por sua vez, poderia amedrontar grandes empresários brasileiros – que, como patrocinadores influentes, podem exercer pressão considerável sobre Mr Bolsonaro – levando-os a defender a democracia. Se as dificuldades de executar uma revolução são grandes demais e as recompensas parecem poucas, é concebível que o Sr Bolsonaro retroceda – ou simplesmente encene uma performance, como o ex-presidente Donald Trump fez, para manter o controle sobre seus seguidores e preparar o terreno para a próxima eleição.
A última vez em que o Brasil viveu semelhante caos político foi em 1964, quando um golpe militar, depôs um governo democrático que estava tentando realizar reformas progressistas. Demorou apenas algumas horas para os Estados Unidos, então liderado por Lyndon Johnson, reconhecer o novo governo do Brasil.
Muita coisa depende da esperança de que os Estados Unidos agora valorize a democracia um pouco mais.
Lago dá aulas na Universidade de Columbia e escreve frequentemente sobre o Brasil, política e sociedade.

Quem é o New York Times
O New York Times é o terceiro jornal mais lidos nos Estados Unidos. Nos últimos anos, tem sido criticado por seus pontos-de-vista abertamente racistas e anti-semitas, e por promover o revisionismo histórico de extrema-esquerda a respeito da história dos Estados Unidos.
Conservadores alegam que ele promove a agenda homossexual. Em 2001, Richard Berke, correspondente político nacional revelou:
Em qualquer dia, três quartos dos presentes à reunião diária, onde é decidido o que vai estar na primeira página do Times, são susceptíveis de serem homossexuais ‘não-tão-enrustidos’.
Em 2008, jornalista da ABC afirmou:
A razão pela qual o Times e, em menor medida o Post, são tão importantes, e eles são, é porque as TVs e as rádios – todos os meios de comunicação – o copiam de forma bajuladora. É assim que o viés do Times torna-se o viés dos outros meios de comunicação.
John Stossel
Quem é Miguel Lago

Biografia de Miguel Correa do Lago
Miguel Lago é diretor-executivo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS). É também professor visitante da School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia e da École Affaires Publiques de Sciences Po (Paris). Antes disso, co-fundou e dirigiu o Meu Rio e o Nossas, duas referências na América Latina de inovação em engajamento cívico. Em 2019 foi nomeado como uma das 100 pessoas com maior influência em governo digital no mundo pela Apolitical.
Imagem:
Jornalista Anderson Cooper noticiando um alagamento.